Nove anos depois da sua interrupção, o trem noturno que liga Berlim a Paris retomou o serviço esta segunda-feira, 11 de dezembro. Um evento que reflete o retorno deste meio de transporte centenário.
Tendo caído em desuso durante a década de 2010, os trens noturnos estão gradualmente retomando espaço nas viagens e regressando ao continente europeu. Como a reabertura do emblemático Paris-Berlim na última segunda-feira, 11 de dezembro, cuja saída marcou uma nova etapa neste renascimento.
Ministros franceses e alemães, diretores das companhias ferroviárias alemãs Deutsche Bahn, da francesa SNCF e até austríaca ÖBB marcaram presença. A lista de funcionários credenciados para assistir à partida do primeiro trem noturno da estação de Berlim para a capital francesa atestou a importância do evento, nove anos após a interrupção desta linha.
“Esta é uma nova era para a aliança dos trens noturnos”, entusiasmou-se o ministro dos Transportes alemão, Volker Wessing, perante uma multidão de funcionários, promotores de comboios noturnos e alguns jovens do Gabinete Franco-Alemão da Juventude (Ofaj). O trem, que saiu de Berlim às 20h18, deve chegar às 10h24 em Paris.
No momento, estão previstas três partidas por semana com saídas às terças, quintas e sábados de Paris e às segundas, quartas e sextas de Berlim. O atendimento deverá passar a ser diário a partir de outubro de 2024, um pouco após os Jogos Olímpicos Paris 2024.
O Berlim-Paris, operado com trens Nightjet da empresa austríaca ÖBB, pioneira no relançamento dos trens noturnos na Europa, oferece diversas opções, desde camas que também são assentos, passando por carros-leito com quartos privados para uma, duas ou três pessoas.
Um meio de transporte atualizado
A empresa austríaca investiu fortemente em trens noturnos, incluindo novos trens, quando a Europa Ocidental fechou gradualmente a maior parte das suas linhas noturnas durante a década de 2010.
Desde 2020, face à demanda por meios de transporte que emitem menos CO2 do que aviões ou automóveis, a França também optou por relançar os trens noturnos.
Em 2016, restavam apenas duas linhas deste tipo em França: uma que ia de Paris aos Pirenéus – Latour-de-Carol ou Portbou via Toulouse – e Albi e outra de Paris a Briançon, nos Alpes. O objetivo é ter dez até 2030. O coletivo “Sim ao comboio noturno” apela à abertura de 25 e a investimentos mais massivos, enquanto a França não tem planos de comprar novos trens antes de 2025.
Fãs do chamado “slow travel”, viajantes amigos do meio ambiente preocupados com o impacto carbônico das suas viagens no entanto, entre outros, não faltam clientes e continuam a crescer para um meio de transporte que não é desprovido de encanto.
Na França, no verão passado, 215.000 viajantes dormiram nos carris ou nos trilhos em viagens, ou 15% mais em comparação com o verão de 2022.
100 milhões de euros investidos pelo governo francês
O governo francês investiu 100 milhões de euros para o relançamento do trem noturno: 76 milhões para a renovação de 93 antigos carros Corail atualizados e 24 milhões para as necessárias instalações da estação.
Mas sem novos trens é impossível abrir novas linhas. “A construção de novos trens, no entanto, demora entre cinco a oito anos. Entretanto, a Europa avança: a Áustria começa a colocar em serviço mais de 200 trens noturnos novos, que encomendou em 2018”.
Embora o trem noturno goza de uma certa popularidade, continua a ser um produto não rentável para as empresas ferroviárias.
O Estado francês subsidia em grande parte as linhas relançadas: cerca de 10 milhões de euros por ano para a ligação a Berlim, bem como três a quatro milhões para a ligação entre Paris e Aurillac, cancelada há 20 anos e reaberta no domingo à noite, segundo o ministério dos transportes.
Só assim as empresas podem oferecer preços acessíveis que variam entre os 29,90 euros por um lugar sentado e os 92,90 euros por um lugar num carro-leito entre Paris e Berlim – desde que reserve o seu lugar com antecedência suficiente.
Fonte: AFP
Muito interessante. O Brasil deveria seguir o exemplo e criar linhas de trem noturno entre o Rio e São Paulo e Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ainda que o passageiro fique 12 horas no comboio, ele economizaria na hospedagem, teria uma cama, um chuveiro e café da manhã, devendo ser considerado que nem sempre as pessoas compram passagens aéreas com antecedência.